A coleção de adornos nasceu inspirada em vivências ligadas a conexões ancestrais que potencializam nosso Orí e nossa caminhada. Não foi fácil, foram vários os desafios. Inclusive, para entender que era possível, que já estava tudo preparado pela ancestralidade, e que, no fim, era mais sobre sentir.
Eu já vivia dentro do universo dos adornos há alguns anos. Ainda sim, saí de São Paulo para Pernambuco em março deste ano, com um forte desejo de construir e materializar algo que eu nem sabia explicar.
Iniciei o ofício de trancista aos 14 anos de idade. Meu primeiro portal estético. A partir dali, comecei a acessar histórias dos cabelos crespos, das tranças e dos penteados.
Esse primeiro portal me inspirou a ter uma atitude cada vez mais autônoma, independente da opinião da branquitude que me cercava. E sim, eu percebi que vivendo em uma sociedade extremamente racista, se eu não tomasse posse do meu corpo, dos meus movimentos e das minhas vontades, eles fariam qualquer coisa para me manter na servidão.
(Imagem Povos Sara)
Graças aos meus ancestrais, estou há 36 anos contrariando as estatísticas. O ofício de TRANÇADEIRA, primeiro portal me salvou de várias situações, e me conectou com o segundo portal: COLEÇÃO DE PERUCAS CRESPAS.
E, agora, o terceiro: MAYAKA.
Mayakas são adornos, fortes símbolos estéticos, identitários, movimento de pertencimento atemporal que se comunicam com nossa histórias. Esse trabalho é sobre retorno.
Minha pesquisa sobre o continente africano ampliou meu contato com adornos e eu me envolvi de forma que me tornei uma MAYAKERA OFICIAL. Além disso, ainda puxo um bonde de mayakeras ou mayacudas natas (sem gênero).
Adornar, enfeitar, fomentar beleza, tudo isso faz parte da cultura dos diversos povos na África e dos povos originários.
Sempre gostei de experimentar, ir por outros caminhos, e com esse sentimento, fui trazendo os adornos. Essas comunicações me fazem entender o quando somos e sempre fomos POVOS BELOS, PLURAIS, cheios de SABEDORIAS e TECNOLOGIAS próprias.
E com Mayaka não foi diferente. Eu já tinha planejado fazer a coleção de adornos para o Ori, porém, confesso que não estava rolando essa conexão em São Paulo. Acredito que não era pra ser, sabe? Eu precisava ir pra Pernambuco, conhecer e reencontrar aquelas pessoas para o processo fluir. Cada um dos profissionais presentes fizeram a diferença no processo de retorno até a Mayaka.
Foi em terras pernambucanas que desenvolvi minha primeira franja removível. A partir disso, se abriu um leque de possibilidades para criar a COLEÇÃO FRANJAS MAYAKAS.
Utilizei peças do meu acervo pessoal e investi em algumas peças novas em São Paulo e em Recife.
Daí em diante, o processo das franjas fluiu de maneira muito orgânica, na medida em que fui sendo atravessada pelo território, repliquei isso nas criações. O clima quente, praiano, as cores vibrantes, terras férteis, reverberaram no conceito da coleção e traduzem esse nosso Brasil, que também é África, com toda certeza.
MAYAKA provocou um movimento coletivo de energias que vibraram pra tudo acontecer.
Produzir na pandemia foi muito desafiador em todos os sentidos, e sim, posso dizer que foram bons afetos que conduziram o rolê.
Perceber o quanto a estética comunica e fortalece me faz querer mais dessas conexões. Despertar esses lugares sensíveis, PRESENÇAS, as nossas, outras... Tudo com o PROPÓSITO de construção de melhores presentes e futuros.
Essas belezas são sobre um levante.
ESSAS BELEZAS DÃO CONTINUIDADE AOS NOSSOS LEVANTES!
SINTA, PERCEBA, SEJA!