Quando pensei em criar a oficina Ori Erê, fui guiada por um desejo imenso de trazer para as crianças um contato maior com a cultura que, muitas vezes, eles não conhecem. Queria mostrar que através do cabelo podemos nos conectar com nossa identidade ancestral, com nossa beleza e auto-estima, e encher os erês de afetividade e pertencimento, pois acredito que esses valores devem ser trabalhados desde muito cedo.
Angola - Mumuilas
O cabelo, para diversas culturas e povos do território africano, possui uma linguagem própria, capaz de identificar características de cada indivíduo de acordo com a sua estética. Formas e tamanhos, cabelos trançados ou adornados, cores, estilos, materiais, tudo possui um significado distinto, que pode nos dizer, por exemplo, a idade daquela pessoa, seu posicionamento religioso ou político, estado civil, etc. São histórias trançadas através do nosso cabelo, que potencializam quem somos e de onde viemos.
Omo - Etiópia
Em relação aos erês, desde os tempos mais antigos, o feitio dos penteados eram, sobretudo, com cabelo naturais, utilizando as tranças , os torços, os dreads e principalmente as Mayakas enquanto adornagem, para potencializar a beleza da criança. Geralmente não se aplicavam materiais postiços (Kanecalon’s, Jumbos, etc) e ainda, em comunidades mais tradicionais, esse feitio se mantém assim.
Etiopia - Omoro
“Na República Democrática do Congo, os Balubas por exemplo usam os penteados nas crianças bem simples, e conforme vai crescendo esses penteados ficam cada vez mais elaborado e artísticos.” Comenta o artista Shambyiwetu, proveniente do Congo .
Congo - Luba
Congo
Entre os povos Himbas, habitantes da Namíbia, os erês utilizam tranças na cabeça desde pequenos.
Namíbia- Himba
Os meninos geralmente começam com 1 trança de raiz para frente,
Conforme crescem usam 2 dessas tranças tradicionais, e as laterais rapaziadas.
Namíbia- Himba
Já as meninas usam os cabelo envolvidos com uma massa, creio ser de barro ou argila trazendo o aspecto de dreads
Namíbia- Himba
Namíbia- Himba
Essa estética, no entanto, se transformará e adquirirá novos significados com o passar da vida na maior parte do território do Continente Africano.
Etiópia- Mursi
Etiópia- Mursi
“ Me lembro na minha infância que eu fazia meus próprios adornos, até hoje faço. Tínhamos pé de Mayakas no quintal de casa , isso era incrível, aquelas sementes que se transformavam e adornavam nossas cabeças. Até hoje enquanto dançarina eu faço minhas próprias Mayakas para apresentação. Diz a dançarina, professora e coreógrafa Safira Lázuli, natural dos povos Huilas.
Angola - Mumuilas
As Mayakas estão presentes desde a infância, são portais que comunicam nossa história, nossos movimentos.
(
Namíbia - Mucawana
As Tranças simbolizam caminhos, encontros com nossa Ancestralidade.
Khoisan - Povos Indígenas - Sul Africa
Sendo assim os penteados são pontes de afetos e pertencimento. Mais uma maneira de construirmos e contarmos as nossas histórias com muita beleza e fundamentos .Para nós, corpos-diaspóricos, é importante entender esses referenciais africanos como uma forma de potencializar nossas crianças, convidá-las a explorarem sua própria identidade, entenderem suas raízes e, principalmente, se sentirem bem e felizes com sua imagem refletida no espelho.
Mali - Bamako - Visual Ponzio
Mali - Bamako - Visual Ponzio
A oficina Ori Erê acontece nos dias 06 (Presencialmente) em Salvador, e dia 07 (Online) de novembro, será um lugar de acolhimento, segurança e troca de experiência entre pais, cuidadores e erês, dividirei com vocês um pouco mais dessas referências, e técnicas para criar penteados que conectem com nossas Ancestralidades.
Burquina Faso - Fulani
Cabelos Contam Histórias.
Vai ser Lindo,
VEM COM A GENTE!!!!!!